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ID: 2958

Do cativeiro eletrônico

15/01/2017

 

DO CATIVEIRO ELETRÔNICO

O título é uma alusão ao escrito de Martim Lutero de 1520: Do cativeiro babilônico da Igreja. Lutero chama a atenção a uma infinidade de práticas instituídas por sua igreja de então, visando a salvação. Ele contrapõe a tudo a descoberta bíblica da justificação pela fé. Foi um grito de libertação. Não é por menos que no mesmo ele escreveria um livrinho com o título sugestivo: Da liberdade cristã. O cristão é livre de tudo para servir a todos, este o fio condutor. Lutero, em seus escritos não pretendia criar uma nova igreja e muito menos destruir simplesmente o que existia. Mas era preciso ficar atento para que práticas e leis não se tornassem escravizantes.

Meio milênio depois, a humanidade que sepultou costumes e tradições milenares, sempre de novo se mete em cativeiros – sem se dar conta! E o cativeiro moderno mais contundente e agressivo me parece ser o eletrônico, o da comunicação virtual, das redes sociais, da comunicação instantânea, daquilo que viraliza! Para esclarecê-lo de antemão: Nosso mundo está construído – para o bem e para o mal – na plataforma eletrônica. Eu mesmo, escrevendo este texto, não poderia imaginar-me datilografando em uma máquina de escrever, o que eu fiz durante quase meio século! Nós dependemos da parafernália eletrônica que só entendemos em parte e da qual não queremos e nem devemos abrir mão. Ela não deixa de ser uma bênção. No entanto, é preciso ficar atento para que ela não se torne escravizante. De repente pessoas, sentadas lado a lado, só dão atenção a um aparelhinho que cabe na mão: Ali estão as notícias, mensagens, fofocas, expressões agressivas. Já se torna difícil sentar à mesa para uma refeição em comum sem que ao menos algumas das pessoas fiquem de olho na maquininha, distantes, portanto, da conversa e da própria refeição. Isso sem falar nas pessoas – e não são somente os jovens! – que varam as noites diante das telinhas.

O ser humano – nós! – é uma criatura fantástica. Sua capacidade de pensar, inventar e criar parece não ter limites. Nós todos, no mundo de hoje, desfrutamos de boa parte de suas criações e invenções. Mas, “o pecado mora ao lado” e nem sempre é tão ingênuo como propõe a comédia com este nome. Até parece que o feitiço vira contra o feiticeiro: Precisamos sempre mais medidas de segurança para nos proteger das nossas invenções: Computador sem antivírus corre alto risco, se usa linguagem criptografada, as provas vestibulares pelo país afora merecem controle especial para que as respostas sejam dadas pelos vestibulandos e não transmitidas por alguém de fora. Até a canetinha precisa ser transparente, pois ela poderia ocultar um pequeno transmissor! Mas não ficamos por aí: Toda a aparelhagem eletrônica envelhece em pouquíssimos anos, o que obriga a novas aquisições. Somos obrigados, mesmo que não queiramos, a comprar maquininhas de última geração sob pena de perdermos a conexão. Um dos efeitos colaterais é que já não sabemos o que fazer com o lixo eletrônico, outro, mais nefasto, é que milhões e milhões de pessoas vão ficando à margem, ou porque não têm condições financeiras, ou porque a idade já não ajuda. Basta olhar pessoas velhinhas junto a caixas eletrônicos!

Há poucos dias morreu o sociólogo polonês Zygmunt Baumann, que, em inúmeros livros e palestras, desenvolveu a idéia da sociedade líquida. Entre outros, ele aponta para o círculo vicioso no qual nos metemos. Criamos a magia fascinante da eletrônica, mas parece que esquecemos – ou ainda não aprendemos – palavras para mandar o fascínio parar, para podermos discernir com clareza ética sobre o seu uso.

      Harald Malschitzky – São Leopoldo/RS
      Janeiro de 2017
 


Autor(a): Harald Malschitzky
Âmbito: IECLB
Área: Publicações / Nível: Publicações - Artigoteca
Natureza do Texto: Artigo
ID: 45070

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